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Covid-19: marcas deixadas

  • Foto do escritor: Andreia Ribeiro
    Andreia Ribeiro
  • 15 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 22 de nov. de 2023

“O luto é o preço que pagamos por ter coragem de amar os outros” (Irvin Yalom).

No início do ano de 2020, em 30 de janeiro, a Covid-19 foi declarada como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional pela OMS (Organização Mundial da Saúde). E, como sabemos, desde então muitas vidas foram perdidas e as consequências para a saúde mental deixadas por esse cenário trágico são imensuráveis e ainda passíveis de atenção.


Diante desse contexto vivenciamos ainda as marcas do período mais crítico da pandemia. Muitas famílias tiveram que lidar com a perda de mais de um ente querido, sem poderem sequer se despedirem de forma digna, diante das necessárias medidas sanitárias que restringiram os ritos funerários, o que, além de outros fatores, gerou ainda mais sofrimento e possivelmente um luto dificultado. Luto é um processo natural de elaboração diante de perdas significativas, reais ou imaginárias de pessoas, animais, objetos, relações, ideais etc. que cada pessoa vivencia ao longo da vida, que se expressa por manifestações emocionais relacionadas à dor da perda e que faz parte do enfrentamento dessa situação.


Porém, quando não há oportunidade para que o enlutado expresse seus sentimentos, seja por ele próprio não se permitir essa expressão, por falta de acolhimento social, espaço para legitimação dessa vivência de perda ou outras questões, o processo de luto pode ficar comprometido. Nesse caso, a pessoa pode ter dificuldade de acessar recursos internos de enfrentamento e ter seu sofrimento prolongado, o que poder gerar, inclusive, adoecimentos, como depressão, por exemplo. É um quadro que, de modo geral, leva a pessoa a permanecer em um estado de não aceitação da perda, com comprometimento de sua qualidade de vida.


E no cenário mais crítico da pandemia, diante de várias perdas em curto espaço de tempo e, às vezes, de forma simultânea, muitas pessoas não puderam se permitir sentir e acolher a própria dor, seja pela falta de oportunidade de se despedirem de todos os seus entes queridos ou até mesmo devido à urgência de sobrevivência que o momento exigia. E vários sentimentos coletivos se faziam presentes tais como incerteza, medo, insegurança, angústia, tristeza, raiva, ansiedade, desespero, desesperança... nem sempre com possibilidade de expressão e acolhimento.


E, agora em 2023, já após decretado o fim da Emergência de Saúde Pública gerada pela Covid-19 e podendo conviver de forma mais aliviada com o controle da doença por meio das vacinas, sabemos da importância de se manter viva a memória daqueles que se foram e desse período vivenciado, além de cuidar das possíveis sequelas emocionais advindas dessa vivência para que possamos ressignificar esse passado recente buscando novas possibilidades de ser e de bem viver. E, ao acolher nossas dores, lembranças, sentimentos e emoções advindos dessa experiência que nós nos permitamos um autocuidado amoroso e continuemos na companhia de quem está junto conosco compartilhando a jornada da vida!




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